A literatura latina, grosso modo, tem suas raízes na literatura clássica grega, e é ainda estrutura fundadora para autores de todo o Ocidente. Algumas das primeiras obras de que se tem registro são parte das origens teatrais da cultura latina, dos quais se destacam o fescenino, a sátura, a atellana e o mimo , que apresentam graus distintos de complexidade e inovação. A atellana, em especial, divide-se em vários tipos: há a atellana rústica, a mitológica, a de costumes e intrigas e a de caracteres, nas quais há grande presença dos tipos de Teofrasto (como o velho, o escravo, o parasita, o alcoviteiro, etc.).
Há também no sistema teatral da antiguidade latina a Palliata, que é a comédia de assuntos gregos, de convenções bastante previsíveis e enrijecidas, como a quebra da ilusão dramática, a farsa, o diálogo com o público, a personagem protática e o enredo repetitivo, em especial o da história da amor proibido com cena de reconhecimento. Desse período, destacam-se dois grandes dramaturgos, Plauto e Terêncio, cujas obras ainda hoje influenciam tramas dos dramas contemporâneos, como o famoso caso da Aululária, de Plauto, que deu origem tanto à peça O Avarento, de Molière, quanto a O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna.
Outros que contribuíram para a constituição da literatura latina como a concebemos foram os poetas agrários, em especial Catão e Varrão, embora as Geórgicas de Virgílio também façam parte do mesmo enquadramento. Suas obras, De agricultura e De Re Rústica, entre outras, decorrem sobre as questões da terra, da colheita, da plantação e da vida rural, sendo parte essencial do imaginário que permeia a antiguidade romana.
Além destes, um poeta de imensa importância foi Cícero, autor de numerosas obras de caráter filosófico e reflexivo, em que decorre a respeito de temas como Da velhice, Da amizade, Da natureza dos deuses, etc. Seus escritos, de maneira geral, intentam a composição de um argumento retórico de nível elevado em que as questões propostas são enunciadas e exploradas amplamente.
Depois dele, também é imprescindível lembrar Lucrécio, seguidos dos epicuristas e autor de De rerum natura, poema que descreve “a natureza das coisas” ou, como sugere Miguel Spinelli, “as coisas naturais”, passando pela invocação a Vênus e à composição material da natureza, que já se imaginava composta de átomos. Nessa obra, o autor argumenta a favor do que mais tarde viria a ser conhecido como Lei de Lavoisier, aquela em que se enuncia que nada vem do nada: pelo contrário, a disposição de tudo o que conhecemos é determinada pelo arranjo, desarranjo ou rearranjo dos átomos.
Houve também grandes historiadores, como Salústio, Suetônio, Plutarco e Tito Lívio, que forneceram obras essenciais para a compreensão da Roma Antiga. Caio Júlio César, entre eles, foi um dos mais influentes, tendo escrito a Guerra Civil, A Guerra das Gálias e ainda outros eventos históricos, elaborando uma ampla narrativa (bastante contundente, ainda que parcial) sobre a formação do império romano.
Por fim, ainda que muitos outros tenham havido, chamo a figura de Catulo, Cancioneiro de Lésbia, poeta de considerável expressão que escreveu o pathos amoroso, os costumes da época, poemas de homenagem aos mortos, poemas de ciúme e de perda, sendo portentoso tanto no impacto do conteúdo quanto no movimento erótico da sua linguagem.
Todos esses grandes autores formaram, no conjunto, um repertório cultural que fundou não só o conhecimento que se faz da literatura latina do período clássico, como também as bases de toda a literatura ocidental que adveio dessa sociedade, sendo um berço ao qual poetas, estudiosos e curiosos retornam sempre em vistas de conhecer e compreender sua origem e os pilares da sua formação cultural.