Lula e a política coletiva dos livros

Domingo, dia 30 de outubro de 2022, para nossa alegria (e de mais da metade do Brasil), Luís Inácio Lula da Silva foi eleito presidente

Não deveria ser necessário declarar nosso voto aqui – sobretudo porque o Duras Letras é um site que se dedica a discutir questões de literatura e coisas afins, e que tem muito respeito e admiração pela história e pela criação artística nacional. Ainda assim deixamos claro: votamos no Lula – tanto pelo repúdio ao presidente em exercício como pela admiração que temos pelo novo presidente eleito.

Nessa reta final, com dois turnos extremamente apertados, o resultado positivo finalmente apareceu e estamos a poucos passos do fim de um percurso tortuoso que foi sendo desenhado pelo bolsonarismo nos últimos quatro anos. Com Lula lá, muita luta ainda será necessária. E será preciso reconquistar mais do que o cargo, as cores e a bandeira, para ver “o Brasil e seu povo feliz de novo”.

Enfim, agora que sabemos o resultado positivo, e pensando que este é um site de literatura, achamos interessante olhar rapidamente para trás para pensar e comentar sobre um detalhe específico da intensa campanha de Lula em 2022: sua relação com os livros.

Livros, sim! Eles estiveram presentes em peso. Não foi coisa apenas de Lula, mas também de seus eleitores.

Basta lembrar que nas eleições de 2018, quando Haddad, companheiro de partido de Lula, concorria ao cargo da presidência, seus apoiadores foram às urnas munidos de livros, numa afirmação simbólica de seu apoio ao candidato e às políticas pró-cultura.

Agora, em 2022, a presença dos livros demonstrando o apoio a Lula foi sobretudo nas redes sociais. No Instagram, aconteceu a campanha dos 13 livros vermelhos, em que o usuário era desafiado a postar uma foto com as lombadas dos livros escolhidos, e o convite da Companhia das Letras a “fazer o L” com o livro, do qual até a atriz Fernanda Montenegro participou.

Tais campanhas, no entanto, geraram polêmica mesmo dentro da própria esquerda, visto que uma parte do eleitorado de Lula considerou a proposta elitista e temia que, com a pose intelectualista, os participantes da campanha virtual pudessem até mesmo afastar novos possíveis eleitores, como comentou Karla Monteiro em sua coluna na Folha de São Paulo.

Além dos gestos de seus apoiadores, o próprio Lula não perdeu a chance de dizer que, ao contrário de seu adversário, ele estava bem mais interessado em entregar livros do que armas para a população, sendo que Bolsonaro, por sua vez, chegou a alertar seus apoiadores para o “risco” de que, se eleito, Lula quisesse transformar clubes de tiro em bibliotecas. E não foi a primeira vez que a política bolsonarista se mostrou contrária aos livros: basta lembrar a proposta tributária do Ministério da Economia dirigido por Paulo Guedes, que esteve determinado a acabar com a imunidade dos livros aos impostos, criada por Jorge Amado, ainda no século passado, o que aumentaria os preços e fecharia as portas de livrarias e pequenas editoras.

Lula, por sua vez, fez um comentário recente sobre a diminuição ou abono da taxação de livros – que visa reduzir significativamente o preço final do produto impresso e favorece sua distribuição. A expectativa, agora, é que Lula reative o Ministério da Cultura e a Secretaria do Livro e da Leitura, numa retomada da valorização e do incentivo à literatura, à cultura e à educação, refletindo seu compromisso com a diplomacia, com os valores democráticos e com a perspectiva de um mundo mais rico em cultura e cidadania, que os livros podem ajudar a alcançar pelo seu potencial transformativo.

Há ainda que se lembrar das pequenas manifestações do presidente petista, que propôs uma lista de indicação de livros para o Dia do Escritor (25 de julho).


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Os livros você encontra aqui

Esse conjunto nos parece importante porque – para além do fato de trazer obras consagradas e publicadas nos últimos tempos – representa uma síntese do próprio projeto de país defendido por Lula ao longo de seus dois mandatos e também da recente campanha de 2022. A lista, misturando literatura e historiografia, destaca uma história narrada pela perspectiva daqueles que foram sistematicamente oprimidos e revela uma preocupação com questões como a fome, o racismo, a nossa história, nossa economia e as dificuldades que ainda enfrentamos: nada menos do que poderíamos esperar de alguém com tanta experiência de vida e tanta luta.

Como nos diz a lição de Paulo Freire:

Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.

Isso posto, para nós, a escolha do voto foi muito simples, e vem recheada da esperança de que, com Lula, o Brasil vai mudar (para melhor).

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