Stanzas
To those first feelings that were born with me,
And leaving busy chase of wealth and learning
For idle dreams of things which cannot be:
Today, I will seek not the shadowy region;
Its unsustaining vastness waxes drear;
And visions rising, legion after legion,
Bring the unreal world too strangely near.
I’ll walk, but not in old heroic traces,
And not in paths of high morality,
And not among the half-distinguished faces,
The clouded forms of long-past history.
I’ll walk where my own nature would be leading:
It vexes me to choose another guide:
Where the grey flocks in ferny glens are feeding;
Where the wild wind blows on the mountain side.
What have those lonely mountains worth revealing?
More glory and more grief than I can tell:
The earth that wakes one human heart to feeling
Can centre both the worlds of Heaven and Hell.
Estâncias
Já me reprovaram e volto sempre
Aos primeiros sentimentos que nasceram comigo;
Deixo de correr atrás do ouro e do conhecimento,
Para sonhar apenas com maravilhas impossíveis.
Mas hoje,
Não descerei mais ao império das sombras;
Tenho medo da sua frágil e decepcionante imensidão,
E meu sonho, povoado com legiões inumeráveis,
Torna este mundo sem forma estranhamento próximo.
Caminharei,
E ficarão para trás as antigas veredas do heroísmo,
E os caminhos já exaustos da moralidade,
E o imprevisto aglomerado de faces obscuras,
Ídolos em bruma de um passado já longínquo.
Caminharei,
Onde só agradar à minha alma caminhar,
(Não posso suportar a escolha de outro guia)
Onde os rebanhos se acinzentam no verde das campinas,
Onde o vento alucinado vergasta o flanco das montanhas.
Que pode revelar a montanha solitária?
Nada exprime sua glória e sua dor.
Minha alma dormia, quando a terra despertou,
E o círculo do Céu ao círculo do Inferno
Confundindo-se, à terra deram nascimento.
Tradução de Lúcio Cardoso.
“Stanzas” é um dos 33 poemas reunidos em O Vento da Noite, de Emily Brontë, e foi um dos poemas do livro que mais me marcaram durante a leitura (que ainda não terminei, pois sem pressa).
Entre os tantos motivos mais ou menos obscuros por que um poema nos marca, acho que esse me capturou por sugerir, indiretamente e por uma via pessoal, o tema da própria criação literária, que me interessa muito, por mostrar um eu lírico muito autêntico, que me fascina quando diz: I’ll walk where my own nature would be leading:/ it vexes me to choose another guide, e por dialogar com imagens e questões da obra de John Milton, que estive lendo nos últimos meses e na qual continuo pensando. Mas provavelmente são os motivos obscuros os que me levaram a voltar e reler o poema algumas tantas vezes.
Confesso que a tradução livre de Lúcio Cardoso não me conquistou, mas fiquei encantada pelos poemas na língua original, e por isso escolhi comprar a edição da Civilização Brasileira, que é bilíngue, ao invés da edição esteticamente mais atraente mas que não é bilíngue da José Olympio.
No geral, os poemas são muito melódicos e rítmicos: quando não pedem para ser cantados, ao menos exigem uma leitura em voz alta, para sentir e saborear a vibração dos sons na língua e nos dentes. Também trazem uma riqueza de aliterações e rimas interessante, e embora sejam um pouco monotemáticos – alguns parecem variações do mesmo exercício –, estão muito bem escritos e produzem a sensação de um livro coeso, com as perspectivas de um eu lírico romântico e selvagem que muitas vezes me lembra o estilo de Cathy, protagonista de O Morro dos Ventos Uivantes (obra que deu fama a Emily Brontë) – e nem que fosse só por isso, já valeria a leitura.
Além de caminhar com O vento da noite, também estou relendo O morro dos ventos uivantes. E, com o objetivo de compartilhar algumas das minhas impressões sobre a leitura, fiz um vídeo a respeito da primeira parte do livro, que está disponível no canal do Duras Letras no Youtube.