Diz o espelho:
Rafael Fava Belúzio é um prosador medíocre. Desses de ilusões perdidas. Assinou algumas crônicas que podem revelar certo conhecimento de formas e tradições – mas os críticos dizem que nele falta originalidade e sobre parasitismo intelectual. Rafael teima em não escutar essa lição e a todo momento oferece mesquinhas produções nesse gênero menor, a crônica.
Rafael passa por cronista frequente. Na realidade, quase nenhum escrito pertence a ele. Com efeito, quem examinar seu texto verificará que se trata tão-somente de repetição sistemática de cronistas brasileiros. E alguns outros textos, inclusive poemas, recontextualizados no tempo e no espaço. Não há nisso crônica alguma, boa ou má. Há apenas a paródia-paráfrase-pastiche de alguns escritos que podem ser encontrados em qualquer volume de história da literatura brasileira.
Esse pequeno fato – literário? – faz despertar em alguns julgadores a suspeita de que se trata de um plagiador. Há por vezes a impressão de que Rafael se diverte com essa conversa miúda, fofoca e opinião a seu respeito: “É um burro”, “É um louco”, “É inferior a uma carniça”.
Alguns traços – pessoais? – do referido escritor contribuem para aumentar as dúvidas. Rafael é um indivíduo oculto, como certos sujeitos de oração, ausente mesmo, usa no trato social palavras poucas e frias. Não é visto em festas. Uns o acham autista; outros, enrustido. Em geral, não ri.
Como professor, dizem que pode ser visto falando aqui e ali o que já foi dito por Álvares de Azevedo e Paulo Leminski. Alguns prejudicados pelas notas do professor o caluniam como se ele não fosse uma personagem, ou insinuam que toda sua atividade é fictícia, e que os alunos caminhariam da mesma maneira, ou melhor, se ele, em vez de lecionar, fosse a uma sessão de cinema. Outro ponto a esclarecer.
Rafael Fava Belúzio
Não há muito o que dizer sobre Rafael, que já não tenha sido dito na crônica aqui disponibilizada. A não ser que é o autor de seu próprio texto, que agora você lê.
Não há muita coisa interessante na vida de Rafael, e ele concorda com isso. Tem explorado largamente o fato de ter nascido em Carangola, cidade mineira de coisa nenhuma, como se isso constituísse uma singularidade. Dizem que o prosador imitador de poeta alimenta recusas, entre elas a recusa da novidade. Vive na velha Carangola, rompendo a tradição da ruptura, vive com os mortos, já deixou de ser uma originalidade.
É, pelo menos, um sujeito esquisito.
1929 e a “literatura especializada”
A crônica “Autorretrato” é uma das 29 que compõem o livro 1929, de Rafael Fava Belúzio, publicado em 2021, pela editora Impressões de Minas, de Belo Horizonte. Para leitores pouco acostumados com o gênero, ou que estão pouco acostumados com a tradição e a historiografia literária nacional, as crônicas de Belúzio podem ser obscuras. Porém, para os que já têm certa familiaridade com este “gênero menor”, e também para aqueles inseridos nas discussões a respeito de influência, intertextualidade e formação da literatura brasileira, a coletânea de Belúzio é uma dessas joias da crônica contemporânea no Brasil.
O livro pode ser adquirido no site da editora.
Título: 1929
Autor: Rafael Fava Belúzio
Editora: Impressões de Minas.
Ano: 2021