Conto – “Estraven, o Traidor”, de Ursula K. Le Guin

Trata-se de uma lenda da região leste de Karhide, como foi contada em Gorinhering por Tobord Chorhawa e mais tarde registrada por Genly Ai, o Enviado. É uma história bem conhecida, tem diversas versões e há uma peça de teatro baseada nela e representada por grupos folclóricos ambulantes, no leste do Kargav.

Há muito tempo, antes da época de Argaven I, que unificou Karhide num reino único, havia inimizade de sangue entre o domínio de Stoke o domínio de Estre, na Terra de Kerm. Essa rivalidade se manteve através de saques e emboscadas durante três gerações, e não havia jeito de se apaziguarem, pois eram disputas em torno de terras. As terras férteis são abundantes em Kerm e o orgulho de um domínio reside na extensão de suas fronteiras, e os senhores das terras em Kerm são homens orgulhosos e suscetíveis, que vivem num ambiente sombrio.

Aconteceu então que o jovem herdeiro carnal do Lorde de Estre — da linhagem de Estraven —, ao esquiar no lago de Icefort, no mês de Irem, numa caçada de pesthry, chegou a um local em que a camada de gelo era fina e esta, com seu peso, rompeu-se e ele afundou no lago. Lutando contra o gelo, ele conseguiu emergir daquela água glacial e usou um esqui como alavanca sobre a borda mais firme do lago; suas condições, porém, eram péssimas, pois, molhado da cabeça aos pés, ficou exposto ao kurem. E a noite se aproximava.

Estre situava-se a oito milhas acima da encosta, e assim ele perdeu as esperanças de alcançá-la; dirigiu-se, com dificuldade, para o vilarejo de Ebos, na margem norte do lago. À proporção que anoitecia, um nevoeiro ia baixando das vertentes geladas e recobrindo o lago; tornando-se impossível encontrar a direção, ele nem sequer sabia para onde dirigir seus esquis. Continuou caminhando cuidadosamente com receio do gelo fino, tentando, ao mesmo tempo, agitar-se porque sabia que, gelado como estava até a medula dos ossos, em breve não se locomoveria mais. Finalmente, através da cerração intensa, vislumbrou uma luz incerta. Retirou os esquis, pois o terreno já estava áspero para deslizar e a neve era rala em muitos lugares. Suas pernas mal o sustentavam, mas o jovem reuniu toda a sua energia para chegar até a luz. Era uma cabana de floresta, rodeada de thore, única espécie de árvore que cresce nos bosques de Kerm. Bateu na porta com força e gritou por socorro; alguém abriu a porta e o levou até o calor do fogo. Não havia mais ninguém, apenas esta pessoa. Aproximou-se do jovem, e tirou-lhe a roupa encharcada, uma verdadeira armadura congelada. Depois o ajudou a deitar-se despido no leito quente, nas cobertas de pele, e com seu próprio corpo aqueceu-lhe os pés, as mãos, o rosto, e, a seguir, deu-lhe cerveja quente para beber. Afinal, recuperando a circulação, ele olhou para aquele que cuidava dele. Era um estrangeiro, mas tão jovem quanto ele. Olharam-se. Ambos eram graciosos, fortes de constituição, de traços delicados, morenos e de bela postura. O jovem de Estre percebeu que o fogo de kemmer estava marcado no rosto do outro. E falou:

— Eu sou Arek, de Estre, da linhagem Estraven.

— E eu — respondeu o outro — sou Therem, de Stock.

Então o jovem Arek de Estre esboçou um sorriso triste e disse, num murmúrio ainda fraco:

— Você me aqueceu e devolveu-me a vida para matar-me, Therem de Stok?

— Não! — respondeu firme o outro.

E estendendo a mão, tomou a mão de Arek procurando sentir se a frieza já havia desaparecido de seu corpo. A este contato, embora Arek estivesse ainda se aproximando do seu kemmer, ele sentiu o fogo do amor despertar em seu íntimo. Por algum tempo ficaram assim, imóveis, tocando-se nas mãos.

— Elas são iguais — disse Therem, e colocando a palma de sua mão de encontro à do outro, mostrou que ambas eram iguais em tamanho e forma, dedo por dedo, tão idênticas como as mãos de uma mesma pessoa.

— Eu nunca o vi antes… — disse Therem.

— Somos inimigos mortais… — respondeu Arek.

Surpreendido, ele se ergueu, ajeitou o fogo da lareira e voltou para junto de Arek.

— Somos inimigos mortais — murmurou Arek —, mas eu juraria kemmering com você. — E eu com você — retrucou o outro.

Assim, juraram laços eternos um com o outro e, justamente, nas terras de Kerm. Naquela época, como agora, aquele voto de fidelidade não podia ser quebrado nem substituído. Permaneceram juntos por alguns dias na cabana, às margens geladas do lago.

Certa manhã, um grupo de caçadores de Stok chegou à cabana. Um deles conhecia Arek de vista; nada disse. Repentinamente puxou seu punhal e, diante de Therem, esfaqueou o jovem na garganta e no peito. Ele caiu morto, banhado em sangue, ao pé da lareira.

— Ele era o herdeiro de Estre! — gritou o assassino.

— Ponha-o no trenó e leve-o à terra dele para ser enterrado lá! — ordenou Therem. E, abatido, deixou a cabana e voltou para Stok.

Mas os homens que partiram com o corpo de Arek no trenó abandonaram-no na floresta para ser comido pelas feras e retornaram, na mesma noite, para Stok. Therem compareceu em pessoa ante seu pai carnal, Lorde Harish rem ir Stokven, e interrogou os caçadores que tinham voltado da missão não cumprida:

— Obedeceram às minhas ordens?

— Obedecemos, senhor.

Mas Therem retrucou:

— Mentira! Se tivessem ido lá, jamais voltariam com vida das terras de Estre! Estes homens desobedeceram às minhas ordens e mentiram para ocultar sua insubordinação. Eu exijo seu banimento.

Lorde Harish o atendeu e eles foram expulsos de seus lares e perderam seus direitos.

Pouco tempo depois destes acontecimentos, Therem deixou os domínios e passou a residir no Monastério Rotherer. Só um ano mais tarde voltou a Stok. Naquele verão, no domínio de Estre, procuraram por Arek nas montanhas e planícies; por fim puseram luto por ele e lamentaram sua morte durante todo o verão e todo o outono, pois ele era o filho único do seu senhor.

No fim do mês de Therm, quando o inverno recobria, com seu pesado manto glacial, a superfície da terra, um homem desceu a encosta da montanha, em esqui, e entregou ao guardião do portão de Estre um vulto envolvido em peles, dizendo:

— Este é Therem, o filho do filho do senhor de Estre.

Logo em seguida desapareceu para o lado das montanhas, antes mesmo que alguém pensasse em detê-lo.

Embrulhado nas peles estava um recém-nascido chorando. Levaram a criança a Lorde Sorve e repetiram as palavras do forasteiro. O velho senhor, cheio de dor, viu nas feições da criança seu filho morto, Arek. Ordenou que o criassem como filho do lar e conservassem o nome de Therem, apesar de este nome nunca ter sido usado por seu clã.

A criança cresceu graciosa, elegante e forte; era morena e silenciosa. Todos encontravam nela muita semelhança com o falecido Arek. Adolescente, Lorde Sorve, na generosidade da velhice, nomeou-o herdeiro de Estre. Houve, então, corações partidos entre os filhos de kemmering de Lorde Sorve, todos homens fortes, no auge da pujança, e que haviam esperado por aquela regalia. Prepararam uma emboscada contra o jovem Therem e quando este saiu para caçar, no mês de Irrem, tentaram pegá-lo. Mas Therem não seria apanhado desprevenido. Atirou em dois irmãos de criação e os atingiu, apesar do espesso nevoeiro que recobria o lago. Com o terceiro, ele lutou a faca e o matou, por fim, ficando muito ferido no peito e no pescoço, com cortes profundos da luta. Permaneceu ao lado do corpo do meio-irmão morto ali no gelo e viu que a noite caía. Tornava-se fraco e nauseado à proporção que o sangue se lhe esvaía pelos ferimentos. Pensou, então, em dirigir-se a Ebos, em busca de socorro. Mas, na crescente escuridão, perdeu seu caminho e chegou à floresta de thore, na margem oriental do lago. Vendo ali uma cabana abandonada, entrou e, muito enfraquecido para acender o fogo, caiu sobre as pedras frias da lareira, e lá ficou, com as feridas sangrando.

Alguém veio à noite, um homem sozinho. Parou à soleira e ficou quieto, contemplando o homem ensanguentado na lareira. Entrou, então, apressadamente e fez uma cama de peles tiradas de uma velha arca, acendeu o fogo e fez curativos nos ferimentos de Therem. Quando ele viu o jovem olhar para ele, disse:

— Eu sou Therem de Stok.

— E eu sou Therem de Estre.

Houve um silêncio entre ambos. Então o jovem sorriu:

— Você tratou dos meus ferimentos para me matar, Stokven?

— Não — disse o mais velho.

— Como aconteceu que você, o Lorde de Stok, esteja aqui, sozinho, nesta terra em litígio?

— Eu venho muito aqui — replicou Stokven.

Procurou o pulso do jovem e sua mão para ver se tinha febre; por um instante a palma de sua mão se colocou contra a palma da mão do jovem, dedo por dedo; ambas eram iguais, como as mãos de um mesmo homem.

— Somos inimigos mortais — disse Stokven.

— Assim é, mas eu nunca o vi antes.

Stokven desviou o rosto para o lado e continuou:

— Eu já o vi, há muito tempo. Meu maior desejo é que haja paz entre nossas casas.

— Jurarei paz com você — respondeu o jovem Therem. Assim fizeram e não falaram mais, adormecendo, em seguida, o ferido. Pela manhã, o senhor de Stokven tinha ido embora. Um grupo de gente do vilarejo chegou à cabana e levou Therem de volta para seu lar, em Estre. Aí, ninguém ousou se opor à vontade do senhor, cuja decisão havia sido consumada, a sangue, no lago gelado. Por morte de Sorve, Therem tornou-se o senhor de Estre. Dentro de um ano, ele terminou com a velha rivalidade, dando metade das terras em litígio para o domínio de Stok. Por isto e pelo assassinato de seus irmãos de criação, ele passou a ser chamado Estraven, o Traidor. Entretanto, seu primeiro nome, Therem, continuou sendo dado às crianças desse domínio.


Esta história é um fragmento do livro A mão esquerda da escuridão, escrito e publicado por Ursula K. Le Guin em 1969. A versão que reproduzimos aqui foi tirada da edição da editora Círculo do Livro S. A., com tradução de Terezinha Eboli e Yeda Salles. O livro, porém, foi reeditado em 2019, saindo com nova produção gráfica e nova tradução, feita por Susana L. de Alexandria, pela Editora Aleph. Na narrativa geral do romance de Le Guin – que trata das aventuras de Genry Ai, um terráqueo, enviado a um planeta glacial chamado Inverno –, a autora mescla alguns gêneros, entre os quais figuram histórias como a de “Estraven, o Traidor”, que mimetiza os mitos ou lendas tradicionais.

Resenha – “A mão esquerda da escuridão”, de Ursula K. Le Guin

Ficção científica, política e de gênero

Não sei bem o que me levou a ler o livro A mão esquerda da escuridão, da escritora Ursula K. Le Guin, a não ser o fato de ter sido indicado por minha companheira, que o tinha lido para uma disciplina a respeito da ficção científica produzida nos Estados Unidos e na Inglaterra. Ela gostara tanto da história de Le Guin que acabou comprando a versão física da obra, publicada em 2019, pela Editora Aleph, com tradução de Susana L. de Alexandria. Estando na estante e sem outras obras pendentes, acabei encarando a leitura e confesso que fiquei bastante impressionado.

Resumindo

Em A mão esquerda da escuridão nós acompanhamos a missão política empreitada por Genry Ai, um homem terráqueo, enviado para o planeta Inverno (ou Gethen), a fim de convencer seus “países” e habitantes a entrarem como planeta para o Ekumen, uma espécie de ONU interplanetária. O interesse do Ekumen em Gethen está ligado ao fato de os gethenianos serem parte de uma “humanidade maior”, apesar de o povo de Gethen não parecer ter qualquer interesse em tecnologias espaciais ou nas conquistas do progresso tecnológico, o que coloca o Sr. Ai, um alienígena entre eles, imerso em um jogo complexo de desconfiança e incredulidade.

Atravessando essa trama política está a maior dificuldade encontrada pelo terráqueo: o fator sexual e seus impactos na sociedade e na psique getheniana, ponto que é uma das cerejas do bolo confeitado por Le Guin. Os gethenianos, diferente dos “outros humanos”, de outros planetas, são ambissexuais, ou seja, têm a capacidade de desenvolver os dois órgãos genitais, o que se dá em períodos específicos de reprodução e/ou afeto: o kemmer. Genry Ai, homem da Terra, é um pervertido aos olhos de Gethen, por sempre estar “no cio” – ou no kemmer –, e ninguém no planeta confia nele, a não ser Therem Hart rem ir Estraven, um político getheniano, que, justamente por conta de seu interesse em Genry e no Ekumen, perde todo seu prestígio, sendo colocado diante de diversas armadilhas armadas por seus conterrâneos.

Os dois personagens, que são também os narradores da história, enfrentam uma odisseia política e social, criada por suas próprias escolhas, se vendo obrigados a enfrentar o povo e a cultura de um planeta que ainda passa por uma de suas eras glaciais e que ainda parece querer permanecer isolado.

Luz é a mão esquerda da escuridão
e escuridão, a mão direita da luz.
Dois são um, vida e morte, unidas
como amantes no kemmer,
como mãos entrelaçadas,
como o fim e a jornada.

Inteligência ficcional

Farei meu relatório como se contasse uma história, pois quando criança aprendi, em meu planeta natal, que a Verdade é uma questão de imaginação.

Em conversas com minha companheira, desde o começo de minha leitura, tenho elogiado a construção do universo de A mão esquerda da escuridão; quando as calotas polares derreterem e o mar cobrir a terra, ou quando o sol se apagar de vez, e não existir mais nada, eu vou continuar elogiando esta obra e a imaginação de sua autora. Isso porque é de uma inteligência invejável, e Ursula K. Le Guin consegue dar substância não só ao planeta glacial Inverno em si, como também à experiência e ao choque cultural vivido pelas duas personagens centrais. Nós, de fato, temos uma “percepção de alienígena”, ou no mínimo estrangeira, com relação a Estraven e aos códigos gethenianos, e temos a mesma impressão de Genry Ai, quando é Estraven quem está narrando, já que o terráqueo não é um homem da nossa terra e tão semelhante a nós, mas de uma Terra de alguns bons anos no futuro. A autora não deixa escapar nada e se vale de mitos, lendas, descrições geológicas e temporais, quase que completamente inventadas, para deixar o cenário mais real, mais palpável para o leitor. E diferente do que acontece com algumas obras, em que as descrições vão ficando enfadonhas e longas demais, em A mão esquerda da escuridão eu sempre queria avançar e descobrir mais um pouco sobre Gethen e sua gente. Acho que isso acontece porque os elementos descritivos estão espalhados por uma trama de acontecimentos bastante envolvente, que traz prisão, traição, assassinato, peregrinação e tudo mais.

A questão de gênero

Apesar da maestria com relação à construção do kemmer enquanto fator biológico e cultura local de Gethen, Ursula K. Le Guin acaba caindo em uma armadilha que ela mesma quer desconstruir nesta história: pelo fato de os gethenianos “não terem sexo definido”, todos os personagens que aparecem de forma central na trama apresentam traços tipicamente tratados como masculinos. É um livro de homens, contado por um homem terráqueo. Estes homens que convivem com Genry Ai são, no geral, tratados com pronomes e artigos masculinos, e o narrador sempre associa a eles a força, a racionalidade, a postura política e impositiva, a violência etc. Agora, quando, em algumas cenas, o Sr. Ai vê que algum personagem getheniano demonstra sensibilidade, fraqueza ou impaciência, ele imediatamente o associa ao feminino, reforçando alguns estereótipos que já não fazem sentido para nós, contemporâneos.

O livro de Le Guin saiu em 1969, ou seja, um ano depois do Maio de 68, o que significa que os debates acerca do gênero e da sexualidade ainda viviam uma espécie de germe de pensamento. O fato de ser antigo não invalida, é claro, as discussões levantadas em A mão esquerda da escuridão, principalmente no que diz respeito à relação entre masculinidade e feminilidade como parte de um sistema binário (e machista, em muitos casos), no qual se opõem: masculino e feminino, como positivo e negativo, ativo e passivo, racional e passional, destrutivo e construtivo etc.

“Yes i Say Yes i will yes”

Se não convenci com a resenha, tento agora com um pedido formal: – Leia A mão esquerda da escuridão.

Depois de eu ler uma série de e-livros, foi muito bom pegar um volume físico para ler, e melhor ainda foi encontrar esta obra prima da ficção, escrita por Ursula K. Le Guin, que, posso dizer com total certeza, foi um dos melhores livros que li em 2021. Assim, aos que querem ler uma boa ficção, não só científica, como também um bom livro, no geral, deixo essa indicação (essa EXIGÊNCIA, na verdade): – Leia A mão esquerda da escuridão.

Oito romances fundamentais para ficar por dentro dos clássicos da ficção científica

Texto por Isadora Urbano

Oiê! Na lista de hoje, elencamos oito romances (e uma surpresa!) para quem quer começar a se aventurar pelos mares da ficção científica. A lista inclui desde textos muito antigos e canonizados a outros menos conhecidos, mas que têm conquistado seu lugar entre os destaques do gênero! Além desses, muitos outros seriam dignos de entrar numa lista dos melhores ou mais importantes – e é também por isso que não vamos colocar os romances indicados nesse tipo de competição: afinal, tem espaço pra todo mundo, não é mesmo?

Ainda assim, os romances escolhidos foram selecionados a dedo por uma aca-fan que tem buscado conhecer mais desse imenso universo literário! Vamos embarcar nessa com a gente? 😃

1. Frankenstein, de Mary Shelley (1818)

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O clássico de Mary Shelley foi considerado por Brian Aldiss o primeiro romance de ficção científica já escrito. 😮
E nós também achamos que ele merece a honraria! Afinal de contas, o célebre romance de Shelley mistura elementos da literatura gótica e de horror com extrapolações dos avanços científicos no campo da biologia e da medicina.
Brincando de deus, Frankenstein criou um monstro – um que vive no mundo, e um que habita dentro de si. Mas qual dos dois será mesmo o pior? 🧠🦴🧟

2. Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne (1864)

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Outro autor que merece destaque no campo da ficção científica é Júlio Verne, que escreveu, dentre tantas histórias, Vinte mil léguas submarinas, A volta ao mundo em 80 dias, A ilha misteriosa e Viagem ao centro da Terra, que escolhemos para entrar nessa lista.
Apesar de ser considerado um dos pais do gênero ficção científica, os livros de Júlio Verne costumam aparecer mais ligados às histórias de aventura – como se um um livro de sci-fi não pudesse ser ao mesmo tempo uma aventura!
Em Viagem ao centro da Terra, um cientista e seu sobrinho, acompanhados de um guia islandês, conseguem descer pelo interior da crosta terrestre, e lá encontram todo um mundo desconhecido, que contém desde dinossauros e homens das cavernas aos mais estranhos animais imaginários!
Com certeza, é um dos livros que não poderia passar batido! 💛

3. A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells (1898)

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Outro clássico indispensável na lista dos romances de ficção científica é A guerra dos mundos, de H. G. Wells – outro nome incontornável do gênero!
Inventor de diversos temas que se tornaram convenções na escrita do sci-fi, em A guerra dos mundos, Wells nos apresenta uma invasão marciana narrada em primeira pessoa por uma de suas testemunhas.
Nesse contexto, o poder bélico dos alienígenas é tão superior ao dos seres humanos que pouco resta à nossa pobre espécie senão se resignar ao massacre. Mas nem tudo está perdido! E a narrativa de Wells mostra como acontece de os seres mais subestimados se tornarem os heróis da vez.

🤑 Você pode adquirir gratuitamente o e-book do conto A porta no muro, também de Wells, em sua edição Kindle pela editora Wish.

4. Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley (1932)

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No mais conhecido livro de Huxley, entramos em contato com a primeira distopia da lista! – Sim, distopias também são ficção científica!
Nesse mundo, os bebês são criados em laboratório e condicionados – química e psicologicamente – a agir de acordo com suas castas: alfas e betas ganham os melhores cargos e luxos, enquanto deltas e gamas vivem mecanicamente suas vidas de exploração, e todos são viciados em soma, uma droga para aliviar o vazio dessa vida medonha!
Mas tudo começa a dar errado quando Bernard, o protagonista, começa a questionar a superficialidade da sua existência, almejando mais, ainda que permaneça guiado por princípios fúteis.
Ao fazer uma viagem a uma “reserva”, onde vivem os povos que não foram atingidos por essa civilização, Bernard e a moça que está tentando impressionar conhecem John, o selvagem, que volta com eles para o mundo moderno. A partir desse ponto, é só confusão atrás de confusão – e garanto que, pelo desenrolar da história, Huxley não parecia nada otimista quanto ao futuro que imaginou! 🚁

5. Blade Runner: Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick (1968)

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Nessa narrativa, acompanhamos um caçador de androides, que trabalha “aposentando” (um eufemismo para matando) um grupo específico de andys, que teria fugido da colônia em Marte para viver livremente na Terra. Alternadamente, assistimos à vida mais monótona, e mais sensível, de Isidore, um “cabeça de galinha”, afetado pela poeira radioativa que atingiu todo o planeta.
O livro aborda diversos temas da maior importância, como a religião e a nossa relação com os animais, mas sem dúvidas o tema que mais chama a atenção é a dificuldade da distinção entre os que são e os que não são humanos, pois nesse mundo os androides fugitivos são praticamente idênticos a nós.
Para distingui-los, o caçador Deckard aplica um teste de empatia e no contexto do livro, é o resultado desse teste o que justifica o assassinato a sangue frio e a absurda desumanização dos androides. Por essas e outras, as questões que Blade Runner levanta continuam mais que atuais – e a leitura, por si mesma, é muito envolvente.

6. A Mão Esquerda da Escuridão, de Ursula K. Le Guin (1969)

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No romance de Le Guin, o embaixador Genly Ai visita o planeta Gethen para convencer seus líderes a se unir à Liga de Todos os Mundos (algo como a ONU, ou parecido). Mas Genly se depara com entraves de um tipo inesperado: o fato de os gethenianos não possuírem as nossas formas de gênero – não sendo nem homens, nem mulheres.
Além de discutir os papeis de gênero, A mão esquerda da escuridão também proporciona reflexões muito válidas sobre a amizade, a lealdade e as dinâmicas da vida política, e isso tudo sem falar na incrível aventura no gelo que se passa por volta da segunda metade do livro!

Vale lembrar que esse romance é considerado um dos pioneiros no subgênero de ficção científica feminista, que também conta com grandes nomes como os de Joanna Russ (The female man) e Angela Carter (A paixão da nova Eva). 💋💪

7. Matadouro Cinco, de Kurt Vonnegut (1969)

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O romance de Vonnegut é instigante por várias razões: além de ser fragmentado e pós-moderno, ele apresenta uma narrativa muito próxima à vida pessoal do escritor, um dos sobreviventes ao bombardeio na cidade alemã de Dresden, durante a Segunda Guerra Mundial.
No livro, o personagem central viaja no tempo – e no espaço – entre seu futuro como um optometrista casado e com filhos, que leva uma vida relativamente tranquila, e os momentos do passado, em que era ainda um jovem soldado tentando sobreviver à dura realidade como prisioneiro de guerra.
Além disso, o personagem também conta de suas viagens ao planeta Tralfamadore, para onde teria sido sequestrado para servir de reality show aos tralfamadorianos.

O livro deixa livre a interpretação quanto à questão das viagens no tempo – se seriam, de fato, viagens reais ou viagens na memória. Independentemente disso, é uma obra que vale a leitura, sendo um dos bons exemplos de como a ficção científica também pode servir a repensar os traumas da nossa história.

8. Kindred: Laços de Sangue, de Octavia E. Butler (1979)

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No romance Kindred – Laços de família você vai acompanhar a história de Dana, uma jovem escritora afro-americana, que de repente viaja para o tempo de seu tataravô, Rufus: um menino branco e filho único de uma família latifundiária do sul dos Estados Unidos. Só que o salto temporal de Dana é um mistério que o livro de Butler não soluciona: não há qualquer sugestão de tecnologias, sofisticadas ou não, que sejam capazes de romper a barreira do tempo – uma das razões porque, vez por outra, aparece a dúvida quanto ao enquadramento do romance na categoria de ficção científica, o que pesa ainda mais por ser uma narrativa muito próxima à história e às questões pós-coloniais.

Agora, um detalhe interessante e que corrobora a ideia de se tratar de uma ficção científica é a posição de Dana em relação à maior parte das personagens da trama. Pelo fato de o período histórico para o qual ela foi transportada ser antes da guerra civil americana, Dana se vê como uma espécie de alienígena: incapaz de se comunicar e agir da forma que conhece e sendo sempre vista com desconfiança, como uma “pessoa fora do lugar”. 👽 E aí, o que você acha?

Bônus: A Verdadeira História da Ficção Científica, de Adam Roberts (2018)

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Se você se interessou pelo gênero e gostaria de ler mais sobre suas questões históricas e teóricas, uma ótima recomendação é o livro A verdadeira história da ficção científica, de Adam Roberts!

Nele, o autor apresenta algumas das muitas definições de sci-fi e o desenvolvimento histórico do gênero, passando pelas suas origens entre os séculos XVI e XIX, as revistas pulp e os sucessos nas telas de cinema.

O livro é dividido em 16 capítulos, sendo que o último é sobre a ficção científica do século XXI. A primeira publicação do livro, em inglês, foi feita em 2005, mas foi em 2018 que chegou para o público brasileiro pela editora Seoman.

O que achou da nossa lista? E o que mais você acha que deveria aparecer por aqui? Conta pra gente! Vamos adorar te ouvir ♥

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