Resenha – “A mercadoria mais preciosa”, de Jean-Claude Grumberg

Resenha do livro "A mercadoria mais preciosa: uma fábula", de Jean-Claude Grumberg, escrita por Gabriel Reis Martins.

Uma fábula para conhecer a Shoah

No turbilhão e correria dos últimos tempos, não tenho encontrado muito tempo para ler, e os livros descansando na estante sempre aparentam ser mais grossos e longos do que realmente são. Foi nesse contexto que A mercadoria mais preciosa: uma fábula, de Jean-Claude Grumberg, chegou às minhas mãos, reavivando minha prática de leitura, por conta de sua brevidade e principalmente facilidade de leitura.

Resumo

De maneira bem simples, A mercadoria mais preciosa tem como pano de fundo o período da Segunda Guerra Mundial e narra a história de dois pobres lenhadores que adotam um bebê que foi atirado pela janela de um trem que passava perto de onde eles moravam.

A condição de vida desses personagens é de extrema pobreza. Além disso, o pobre lenhador e a pobre lenhadora – como são chamados – vivem em uma região inóspita e interiorana, em uma situação de alheamento em relação à guerra e a uma de suas tragédias e crimes mais conhecidas: a Shoah, mais popularmente conhecida como Holocausto.

A criança, filha de judeus, é a tal “mercadoria mais preciosa”, resgatada e amada pela pobre lenhadora.

Duras Letras-A mercadoria mais preciosa - Jean-Claude
Clique na imagem

Impressões e recomendação

Durante minha formação em Letras, um dos temas que mais foi discutido em sala de aula foi a relação entre memória, testemunho e literatura, sobretudo sob o ponto de vista da Ditadura Civil-militar no Brasil, mas também dialogando com os eventos envolvendo o Holocausto. Por esse motivo, não me senti tão surpreendido pela narrativa de A mercadoria mais preciosa, e nem mesmo criei muita afeição pelo livro.

Acredito que, enquanto uma porta de entrada para a discussão sobre a Shoah, trata-se de uma excelente obra: o livro não só é bem escrito, mas tem uma linguagem fluida e divertida, o que faz com que não seja uma daquelas obras documentais e maçantes sobre o período da Segunda Guerra. Mas o fato de ser divertido não faz com que desapareça a seriedade do assunto principal – na verdade, Jean-Claude Grumberg sabe equilibrar seu texto entre esses dois lados, e deixa aquela amargura, aquele secar da boca, que só períodos de tragédia e eventos traumáticos oferecem.

   Os dias se sucederam aos dias, os trens aos trens. Em seus vagões chumbados, agonizava a humanidade. E a humanidade fingiu ignorá-lo. Os trens provenientes de todas as capitais do continente conquistado passavam e repassavam, mas pobre lenhadora já não os via. 

   Eles passaram e repassaram, noite e dia, dia e noite, na indiferença total. Ninguém ouviu os gritos dos comboiados, os soluços das mães misturando-se aos estertores dos velhos, às orações dos crédulos, aos gemidos e aos gritos de terror das crianças separadas dos pais já entregues ao gás.

Se você não está familiarizado com o tema, ou tem apenas um conhecimento antigo sobre o Holocausto/Shoah, recomendo a leitura de A mercadoria mais preciosa. Isso porque, volto a dizer, é uma ótima porta de entrada para entender o conflito entre o regime nazista e a população judaica. 

Agora, se você já está mais familiarizado com o assunto, minha recomendação é que você… leia esse livro também! A narrativa é realmente dinâmica e o livro tem poucas páginas (não chega nem às 100 páginas, e tem capítulos curtíssimos), então, é uma obra para ser lida no lance de uma noite ou tarde ou manhã. Não vai tomar tanto tempo, e vai ajudar a reavivar temas importantes, lançando outro olhar sobre o que já é conhecido.

Nota

7.5/10

Informações de publicação

Autoria

Dados

Anúncios

Veja também

Gostou do conteúdo? Compartilhe!

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

Deixe um comentário

Conteúdo relacionado